Livros de Sangue, de Clive Baker

•2007, setembro 16 • 1 Comentário

“Cada corpo é um livro de sangue: sempre que nos abrem, a impressão é vermelha”.

Que tal?

E esta: “Calloway nada mais podia fazer que não fosse olhar para aquele cadáver que o estava chupando”.

Com certeza, esta: “Cada homem, mulher e criança naquela torre de horrores era cego. Viam somente através dos olhos da cidade. Não tinham mente pensante, a não ser para pensar os pensamentos da cidade. E acreditavam que eram imortais, na sua força implacável e pesada. Vasta, louca e imortal.”

Falar de Clive Barker sem citá-lo é quase uma heresia. O cara é mestre num gênero de horror pouquíssimo (bem) explorado pela literatura: o horror que choca, enoja, repugna. O horror que sangra. Um gênero completamente oposto ao de Stephen King, ser supremo da ficção de horror da segunda metade do século passado. Enquanto King apela à psicologia, à moral, à crítica social; Baker age como um açougueiro metódico: desmembra pedaço por pedaço da nossa sanidade e nos joga num turbilhão de sangue, tripas, e o que mais vier.

Enquanto os autores da tradição de Poe (King entre eles) constroem lentamente o espaço e o tempo de suas histórias, reservando o melhor para o final, Baker e seus comparsas (Ramsey Campbell e principalmente James Herbert), pegam o ônibus lotado no meio da estrada, à 100km/h e aceleram até o limite – de preferência jogando-o contra um precipício a fim  de causar o maior número de mortes possíveis. No conto em que Baker mais lembra KIng (O Yattering e Jack), sem buchos abertos e com uma viradinha na trama digna de EC Comics, Baker é infinitamente superior. Em Baker, uma regra das histórias de terror é quebrada: ninguém é punido por sua falta de moral. Pelo contrário, às vezes até se é recompensando (como no caso de Kaufman em “O Trem de Carne da Meia-Noite”). Os moralistas e os bem-aventurados, ah, esses sim… que sejam punidos todos eles! O clímax das histórias de Baker lembra Lovecraft. Só há duas saídas: a morte ou a loucura. Nada mais justo.

Nada mais apropriado, também, do que “Livros de Sangue” para o título desta coletânea de contos. É sangue o que pinga de página após página. E então é possível compreender qual mente doentia poderia conceber Hellraiser e seus cenobitas, ou Raça das Trevas. Mas o melhor – o melhor MESMO – de Baker é sua literatura. É nela que ele explora todo um arsenal de estilo, maluquice e extremidades que deixariam até Takeshi Miike enojado.

Arrependo-me, de agora em diante até o dia de minha morte, por não ter lido Clive Baker antes. Para o autor inglês, não posso deixar de desejar-lhe que mantenha o poder por muito tempo; que por muito tempo possa vomitar luz sobre a cabeça de nós, os condenados.

Slasher Movies, Parte I

•2007, agosto 8 • 2 Comentários

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Não gostaria de topar com um sujeito desses na noite…

Os slashers movies foram a febre do terror juvenil na década de 1980 (mais ou menos como é a febre do pornô-tortura hoje em dia) e envolve, tipicamente, um psicopata mascarado que caça e mata suas vítimas de formas extremamente violentas e sádicas.

As vítimas são, via de regra, adolescentes ou jovens adultos que vivem numa cidade pequena do interior dos Estados Unidos, e encontram-se longe da civilização. Freqüentemente, o assassino ataca numa festa, onde todos estão envolvidos em sexo antes do casamento, abuso de álcool e de drogas, e nosso psicopata fará todos estes desajustados pagarem caro por isso! (Lembrem-se, queridos, o gênero terror é o mais reacionário de todos).

Todo slasher movie acaba com uma sobrevivente que, de alguma maneira, encontra em si poder suficiente para enfrentar o psicopata. Ela sofrerá danos psicológicos graves, que a marcarão por toda sua vida e, apesar de mais raro, pode vir a sofrer danos físicos. Após liquidar com a ameaça do psicopata, ela descobrirá que não o matou, mas apenas retardou seu avanço. De uma maneira ou outra, o psicopata slasher é dotado de sobre-vida.

O psicopata

Num slasher movie, o assassino quase sempre usa armas não-convencionais, como motosserras, foices, garras, espadas. Raramente – pra não dizer nunca – utiliza armas de fogo. Em 90% dos casos conhecidos, o slasher é do sexo masculino. A mais recente exceção sendo Lendas Urbanas; a mais clássica sendo o primeiro Sexta-Feira 13, ainda que, em ambos os casos, sejamos levados a pensar que se trata de homens.

Quase sempre existe uma história que explica o porquê do assassino fazer o que faz. Esta história pode conter um background de abusos ou injustiça contra o psicopata, que no futuro extravasará suas frustrações liquidando um certo grupo-alvo. Este grupo-alvo muito freqüentemente têm a ver com as frustrações do próprio assassino, mas não raro pode ser só gente com má sorte, no local errado e na hora errada.

Muitas vezes – e muito convenientemente – o fato traumático ocorre próximo a uma data facilmente lembrada pela população. Confira títulos como O Primeiro de Abril dos Mortos, Black Christimas, My Bloody Valentine e por aí vai. Resumindo, o psicopata não é apenas um psicopata – é um psicopata envolvido numa vingança.

O slasher é capaz de aguentar a maioria dos ataques de suas vítimas, devido a poderes sobrenaturais explícitos ou implícitos. Assim, após ser eletrocutado, esfaqueado, baleado, esmagado, afogado e ter sofrido quedas horríveis, ele sempre se levanta para cumprir sua missão: matar todo mundo. São dotados de um incrível poder de locomoção, que os permite sempre estar à frente de suas vítimas, parecendo que ocupam mais de um lugar no espaço. Exatamente por este ótimo preparo físico, eles parecem que calmamente caminham enquanto suas vítimas correm desesperadamente…

As vítimas

A Sobrevivente/Heroína – quase sempre apresenta as seguintes características: 1) é morena, 2) é alta, 3) é virgem. Freqüentemente tem um nome unisex (Sidney, Billie, Teddy, Taylor). A Sobrevivente nunca será a garota que ficará nua durante o filme – lembrem-se, ela é virgem e recatada. Além disso, evita os vícios dos demais personagens (sexo antes do casamento, álcool e drogas). Por ser a primeira personagem a ser apresentada no filme, você pode ter certeza de que ela durará até o final. Possui uma enorme força de vontade – que pode balançar durante algumas partes do filme – e valores morais sólidos. Pode ou não possuir um envolvimento prévio com o assassino, um passado negro que envolve a ambos. Por ser a força narrativa da história, ela será provida de inteligência, curiosidade e senso de dever. Ela poderá se assustar, mas nunca entrará em pânico, mantendo, mesmo nas piores situações, uma visão clara dos acontecimentos. Tentará de todas as formas salvar seus amigos mas, restando sozinha, utilizará de sua reserva de forças para acabar com a ameça do psicopata. A não ser – claro – que ela seja a psicopata.

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Jamie Lee Curtis é a Sobrevivente de vida mais longa no gênero

O Nerd – é a maior contradição de um slasher movie. Convenhamos: quantas vezes você já viu uma garota responsável (ou lésbica), um boyzinho, uma patty, um negro e um nerd todos juntos na mesma festa? De qualquer forma, o Nerd possui a função de acrescentar humor à narrativa, quebrando o suspense do filme. O Nerd é uma carta fora do baralho do psicopata: ou ele é o primeiro ou o último a morrer. Quando é o primeiro, é por que descobriu o que estava acontecendo e tentou avisar a sobrevivente. Quando é o último, é por que sacrificou-se para que a sobrevivente pude-se hã… sobreviver.O Saco de Hormônios – Também conhecido como Jock, Fortão ou Boy. Não acrescenta nada na narrativa, e seu único objetivo é levar uma das garotas (normamente a Cheerleader) para outro quarto para “brincadeiras à dois”. Óbvio que isto é moralmente errado e, por isso mesmo, ele acabará punido.

A Cheerleader – Ela é praticamente um corpo. Um corpo para ser morto, mas primeiro um corpo para ser exibido. Inevitavelmente participará da cena de sexo gratuito do filme e pode acabar morta vestindo apenas suas roupas íntimas. Dependendo do filme, ela será requisitada para mostrar seus seios mais de uma vez antes de ser morta. Ela é SEMPRE loira, fala as coisas mais óbvias, é desprovida de qualquer traço de inteligência e tem uma voz tão meiga que é capaz de deixar o psicopata em dúvida de que vale a pena matar um bicho desses. Mas, hã, essa dúvida não durará mais do que três segundos hehe.

O Negão – A única diferença deste personagem para os outros do grupo é que ele é… hmm… negro. É um mito do gênero terror que o Negão é o primeiro a morrer, mas na verdade ele é o segundo. O primeiro sempre é o Nerd ou alguém relacionado com a Sobrevivente – o pai, a prima, a bibliotecária, a professora, o vizinho, etc – ou ainda alguém relacionado com o psicopata – o guarda da prisão, o cientista maluco, etc. O Negão será um dos únicos a entender o que está acontecendo e, por isto mesmo, será sempre tachado de “cagão”. Ele ficará com medo de ir naquela casa onde um bando de caras foi morto no último ano, por exemplo. O que leva a constatação de que ele é o único cara são. Como será desacredito e execrado pelo resto do grupo, o Negão encontrará sua fuga nas drogas. E, é claro, pagará por isso.

O Abnegado – Abnegado, nesse contexto, é um reflexo de tudo que é bom na humanidade. Alguém que está disposto a defender outros do mal, mesmo que seja um grande sacrifício pessoal. Ele pode ou não saber quem o psicopata é e o que este está fazendo. Nada – nem um sério ferimento – vai pará-lo de tentar impedir o psicopata. Ele pode, assim como a Sobrevivente, ser um link para as seqüências do slasher movie.

Fróide explica!

A crítica de cinema Carol J. Clover cunhou a expressão “Final Girl” (que aqui traduzo como “A Sobrevivente”) em seu livro Men, Women and Chain Saws: Gender in the Modern Horror Film. A questão principal de Clover é: “se a maioria do público de um slasher movie é masculina, por que o herói é uma mulher?”. Hmmm…A premissa básica é de que o psicopata, em muitos casos, é um homem feminilizado, como Norman Bates em Psycho e Jamie Gumb em O Silêncio dos Inocentes. Até o final do filme, a Sobrevivente tende a se tornar mais e mais masculinizada, ao deixar de ser medrosa e torna-se agressiva. Poderá assumir também características físicas mais masculinas. Além disso, ela se armará de uma arma fálica, como um porrete, um machado, uma faca ou uma motossera.

Não obstante, mais de uma vez a heroína, para confundir o psicopata, agirá como sua namorada, agraciando-o com uma voz suave e sexualmente provocante ou agirá como sua mãe, xingando-o quando ele é bruto. Isso só é possível quando existe uma conexão entre o psicopata e a Sobrevivente.

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Michael Myers espreitando sua próxima vítima…

Para salvar-se, diz Clover, a Sobrevivente fará uma ferida “vaginal” no psicopata: qualquer corte sem perfuração apresenta feridas vaginais. Sendo as armas disponíveis todas cortantes (e fálicas), o tipo de ferida é implícito.Clover argumenta dizendo que, para um slasher movie ser bem sucedido, o herói precisa ser uma mulher pois apenas uma mulher é capaz de passar de um estágio de pânico total para o de heroismo total sem parecer fraquejar em nenhum momento desta caminhada. Um homem apavorado no início, mesmo que até o fim do filme vença seus temores e enfrente em igualdade o psicopata, perderá a simpatia do público, que aceita a masculinização, mas repreende a feminilização. E, convenhamos, um sujeito que grita sem parar durante vinte minutos é bem mulherzinha he, he, he.

Isso pode ser apenas uma bobagem freudiana – e eu reluto em resumir tudo em sexo. Por isso apresento uma outra possibilidade de interpretação dos slasher movies: o herói é uma mulher pois apenas desta forma podemos nos desculpar por nos satisfazermos a cada vez em que uma das garotas do filme é aterrorizada, torturada e brutalmente morta pelo psicopata, he, he, he.

Na próxima parte: a origem do gênero, Dementia 13 de Coppola e Sei donne l’assassino de Mario Bava.

Behind the Mask: a entrevista

•2007, agosto 8 • Deixe um comentário

Abaixo, confira na íntegra a reportagem realizada por Taylor Gentry com o psicopata Leslie Vernon, que trucidou uma trupe de jovens em Glen Echo.

Transcrevi toda a parte do documentário contido no filme Behind the Mask: the rise of Leslie Vernon, do qual postei a resenha no post abaixo. O documentário é muito interessante para os fãs de terror, ao fazer uma análise cuidadosa do gênero slasher e discutir seus muitos clichês.

Pra quem não viu e não quer perder o sabor de novidade, recomendo assistir a Behind the Mask… antes. Primeiro por ser um ótimo filme, segundo por que todas as falas abaixo fazem parte do filme e podem matar muito da diversão. Enfim, vai um aviso:

SPOILERS A SEGUIR!

Taylor Gentry

Bem-vindos a Glen Echo, uma comunidade como fotografia de cartão postal, que representa centenas de pequenas cidades por toda América. Mas existe uma atmosfera de mal indescritível ameaçando quebrar a paz desse paraíso. A mesma atmosfera do mal que tomou conta de cidades parecidas, por quase 30 anos.

A história é conhecida: em Cristal Lake, um louco chamado Jason Voorhees matou dezenas nas últimas três décadas. Deixando uma comunidade devastada, deserta, temerosa de sua próxima aparição.

Na Rua Elm, no subúrbio da comunidade de Springwood, assassinatos repetidamente cometidos deixaram cicatrizes psicológicas tão profundas, que algumas pessoas insistem que apenas sonhar com ele pode matar você durante o sono.

E em Haddonfield, um filho pródigo, Michael Myers, fez uma ataque similar, no dia do Halloween ou próximo dele, em pelo menos, 4 ocasiões diferentes. Para estes moradores, o Halloween nunca mais será o mesmo.

Quem são estes homens? Como fizeram, o que fizeram? Qual a conexão entre aquelas cidades e Glen Echo?

Teria sido aqui, em Glen Echo, segundo nosso contato, que a próxima encarnação de um mal inflexível emergirá. Há 20 anos e uma fazenda agora abandonada, havia um menino, supostamente possuído pelo mal, que foi tirado de sua casa por uma multidão enlouquecida e jogado em uma cachoeira, onde pereceu.

Molly e Silus Vernon eram um casal estranho, muito fechados. Nove meses após ser estrupada, Molly Vernon deu à luz um filho bastardo. Ele foi horrivelmente abusado. Foi forçado a morar no celeiro e induzido a viver como um escravo para arar os campos com apenas uma ferramenta manual. Um dia, segundo a lenda, o garoto se revoltou. Sob a lua cheia e sedento de sangue, ele assassinou Silus com a tal ferramenta. Enterrou o corpo nos campos e tirou a Molly de casa, levando-a à pequena capela da fazenda. Quando os crimes foram descobertos, uma imensa quantidade de pessoas tirou o garoto da casa, amarrou-Ihe as mãos e o levaram até a cachoeira, no rio Banks Vernalice, onde ele desapareceu nas águas congeladas. O corpo nunca foi achado pois, em águas tão frias, corpos não voltam a superfície…

Agora, aquele garoto está procurando vingança contra a cidade que o assassinou. Ele sabe disso, diz ele, porque ele mesmo é o herdeiro de um trono há tanto tempo mantido por Voorhees, Meyers e Kruger.

O nome deste homem é Leslie Vernon.

 

Uau! A quantidade de livros é impressionante.
Leslie Vernon –
Este é meu orgulho e alegria! Ainda não fui capaz de arrumá-los ultimamente, estão caindo por todos os lados.

Percebi que muitos deles são manuais, livros de texto. Diria que a maior parte deles é…
LV – Relacionados ao trabalho? Bem, não sugiro Grey’s Anatomy para crianças. Tem a parte engraçada: Cooperfield, Houdini… “Fora do alcance”, “Táticas de fuga”… quer ver “Truques de Mágica”?

Na verdade, está falando sobre aterrorizar pessoas inocentes.
LV –
Não! (risos)

Não? Por quê? Por que isso é engraçado?
LV –
Veio até mim para descobrir como caras tipo Mike, Chucky e Freddy fazem o que fazem. Não o porquê. Não posso me sentar aqui, na primeira noite que a conheço e explicar a você. É como entender todo um processo. Ou não. Você decide.

Certo. Nos diga então… Como você faz?
LV –
Vamos lá!

Ir aonde?
LV –
Onde mais? Minha própria casa. Conhece a história de como fui caçado, e jogado na Cachoeira? No aniversário da minha morte, os jovens daqui desafiam uns aos outros para passar a noite na velha casa da fazenda. Esse ano irei reaparecer.

Por que não mora aqui ao invés de morar tão longe da cidade?
LV –
Por que não posso, porque… Por que até onde é do interesse da cidade de Glen Echo, estou morto. Se é aqui que vou reaparecer… não posso ser visto de bobeira.

Entendi. Qual função isso revela?
LV –
Fico feliz que tenha perguntado. Passo nº 1: preciso de uma âncora para minha lenda.

Por que faz tanto exercício físico?
LV –
Para poder ser capaz de correr como uma gazela enlouquecida. Sem ficar sufocado, forçado. Toda aquela coisa, fazendo parecer com que se está andando, enquanto todos os outros estão correndo pra caramba. Tenho que tentar acompanhar eles. É difícil, meu. É duro!

Entendi. Qual o passo nº 2?
LV –
Quando você tem a localização deve encontrar o grupo alvo.

Por grupo alvo você quer dizer vítimas?
LV –
Mandioca, macacheira, tanto faz. Não é tão fácil quanto imagina. Acha que acorda uma manhã e começa a ficar obcecado por uma garota, então começa a segui-la? Mata todo mundo que fica em seu caminho.

Parece que acontece muito com alguns caras.
LV –
As garotas são a chave. Mas elas têm que ter um elenco coadjuvante. São bonitas, crianças afortunadas, com libido saudável. E tem outros caras que não se movem tão rápido quando os colocamos pra correr. Então é melhor escolher bem seus números na hora de jogar. Tem que encontrar um grupo onde todos se encaixam, uma garota sobrevivente, e juntar a todos.

O que é uma garota sobrevivente?
LV –
Desculpe-me, é um termo industrial, é… Uma garota que seja capaz de fugir de mim no final do dia.

O que há sobre esta garota de especial?
LV –
Ela é virgem.

Quem é a sua garota sobrevivente?
LV –
Já escolhi uma garota de Glen Echo. Se já não tivesse escolhido uma garota, ficaríamos muito fora do programado. Ela se chama Kelly Curtis.

Isso leva ao 3º passo?
LV –
É o que chamo de “vôo próximo”. Só quero deixá-la um pouco paranóica, sabe… Deixá-la achando que há um problema chegando.

Então, onde vamos agora?
LV –
Visitar meus dois melhores amigos. Eugene e sua esposa Jamie. Eugene é um velho profissional no negócio. Está aposentado agora, mas me ensinou muito. Acho que é bom conhecê-los, sabe, pra Ihe dar uma perspectiva. Como uma ponte entre o passado e o futuro.

O que ele está fazendo?
LV –
Eugene está no tanque. Uma câmara de depravação dos sentidos. Sabe, como aqueles tubos grandes.

Por que ele faz isso?
LV –
Ajuda a controlar as funções do corpo. Como o pessoal da Yoga. Que podem diminuir a respiração e a pulsação. Chegam a quatro pulsações por minuto, algo assim. É bom poder fazer isso. Caso precise fingir que está morto.

Mencionou que seu amigo se aposentou.
LV –
Sim.

Por que continua fazendo isso?
LV –
Não faço a mínima idéia.

Jamie, apóia Leslie no que está tentando fazer?
Jamie –
Claro, vejo o quanto está trabalhando duro pra isso. Eu gostaria que escolhesse algo mais seguro pra fazer com sua vida, mas ele sabe o que é melhor para ele.

Então, Eugene, Leslie nos disse que se aposentou. Como eram os velhos tempos?
Eugene –
Puxa! Era um mundo completamente diferente quando eu estava no jogo.

Como assim?
E –
Bem, fui bem sucedido no fim dos anos 60 para os 70. Naquele tempo se prezava pela qualidade do trabalho. Quanto trabalho se conseguia fazer no ano e em quantos lugares, sabe? Não tínhamos toda a preparação que há hoje em dia. Sempre existiram picaretas por aí. Caras sujando o esquema. Fazendo badernas por aí, desrespeitando o trabalho. Acabam mortos ou presos. Não tem como se desfazer deles. Prejudica a todos nós. Degrada nossa reputação.

Você mencionou que, hoje, a maioria dos caras da sua linha de trabalho são picaretas…
E –
Não estou falando dos caras que trabalham duro como Jay, Freddy e Mike. Não havia ninguém como eles nos velhos tempos. Batíamos forte, detonávamos todos e desaparecíamos o quanto antes, sem mesmo pensar em voltar. Esses garotos elevaram o negócio pra outro nível. Fizeram disso uma arte. Tornaram-se lendas por retornarem como uma maldição várias e várias vezes. Essa foi uma mudança radical de filosofia. Mudou o negócio todo…

O negócio de: “assassinos repentinos sobrenaturais”?
E –
Não, minha jovem. Esse é o negócio do “medo”.
LV – Ela não está muito de acordo com toda a coisa de porque fazemos o que fazemos.
E – Toda cultura, toda civilização desde o surgimento do homem, teve seus monstros. Para o bem poder se contrapor ao mal deve haver o mal, não é?

E – Falando nisso, Les, Como está aquilo em que esteve trabalhando?
LV – Muito bem! Falei pra Jamie que a garota está mordendo a isca.

E – Já está com o “começo” todo armado?
LV – Creio que sim. Ela passa bastante tempo na biblioteca, pensei em fazer lá.

E- Ela conhece o zelador ou alguém de lá?
LV – Ia abater um dos amigos dela.

E – Acho melhor não, filho. Não desperdiçaria essa jogada logo de cara. Acaba esquentando muito cedo.
LV – Certo.

E – Há mais alguém? Ela conversa com alguém, um sem teto no caminho ou algo assim?
J – Ei, que tal uma bibliotecária? Se passa bastante tempo lá, provavelmente conhece algumas.

E – Essa é uma boa idéia, Les.
LV – Há uma senhora lá que a deixa ficar até mais tarde algumas vezes.

E – Bingo, temos um vencedor!
LV – Vou pensar nisso.

Leslie, o que é esse “começo vermelho”?
LV –
É um ataque preliminar envolvendo Kelly indiretamente.

“Ataque” significa a primeira pessoa que irá matar?
LV –
Sim. O próximo passo é fazer isso chegar nas mãos da Kelly.

O que é isso?
LV –
Isso é um artigo sobre o suspeito que foi interrogado pelo estupro de minha mãe. Mark Daniel Curtis.

Ele é parente de Kelly?
LV –
É tio-avô dela. Bem, supostamente.

Nossa! Ele parece muito com ela.
LV –
É ela. É uma imagem gerada por computador. Muito bom, não? Ela não tem um tio-avô, que eu saiba.

Você criou isso?
LV –
Sim, como muita coisa que usamos em CGI.

Então como isso acontecerá? Como funcionará?
LV –
Não sei se funcionará. Só colocarei na frente dela e vou torcer pra que pegue e ligue os pontos. É um outro teste pra saber se estamos na mesma página. Na verdade, muito do que acontece aqui e agora, sucesso ou fracasso, depende dela. Do que ela faz.

E o que é isto?
LV –
Artigos de jornal antigos são arquivados em microfilme. Troquei o verdadeiro por um com a história inventada sobre o tio-avô da Kelly. Se tudo correr bem, é bem difícil, mas se correr bem… Ela lerá parte do artigo no papel e depois vai querer ler o resto. Ela pedirá ajuda à bibliotecária e consultarão o microfilme. Lerão sobre a ligação com a família Curtis e a Kelly se desesperará. A bibliotecária dirá algo como: “tudo bem, querida. É apenas uma história antiga”. Então, faço minha aparição. É hora da ação, garotos.

Certo.
LV
– Depois de degolar a bibliotecária e perseguir a Kelly um pouco, a deixarei ir embora. Se tivermos sorte, aparecerá um abnegado…

O que seria um abnegado?
LV
– Abnegado, nesse contexto, é um reflexo de tudo que é bom na humanidade. Alguém que está disposto a defender outros do mal, mesmo que seja um grande sacrifício pessoal. Ele sabe quem sou eu. Ele sabe o que estarei fazendo. E nada vai pará-lo de tentar me impedir.

E depois?
LV –
Depois, sejam bem-vindos ao lar dos meus supostos ancestrais.

Quer limitar o seu tempo lá dentro o máximo que puder? Por que isso?
LV –
Para reestruturar sua mobilidade, vou querer manter os olhos em tudo e ao mesmo tempo. O pior é quando começa o jogo de esconde-esconde. Aquilo realmente te deixa devagar. Agora, se se esconderem no armário…

Por que não apenas chegar e pegá-los?
LV –
Temos um código de ética, Tay. O armário é um lugar sagrado. É simbólico como um útero. O lugar mais seguro pra se estar, pois, no útero, somos inocentes.

Então isso quer dizer que é contra abortos, Leslie?
LV –
De qualquer maneira, não se quer gastar muito tempo em apenas uma pessoa. Dá aos outros muito tempo para escapar. E essa é a regra número um: ninguém escapa. Se matar um, se não for uma verdadeira carnificina, é muito vergonhoso.No quarto é onde começaremos. Se tudo correr como espero, um cara levará sua garota lá para dar uns amassos. E é claro que estarei esperando por perto. O armário é o meu camarim. Espero lá até começarem a fazer a tal coisa e, aí, é a hora da decisão.

O que é uma situação de partida?
LV –
Se eu tiver um bom senso de como as coisas estão indo, se todos estiverem ali. Uma vez que os dois terminarem, prepararei a área e farei parecer como que se estivessem dormindo.

Por quê?
LV –
Bem, se alguém entrar e vir corpos retalhados, sairão correndo pela casa. Perderei controle deles cedo demais. Assim que possível, terá que restar somente eu e a Kelly. Tenho o controle do fusível principal, para cortar a energia. Para que eu possa descer de fininho as escadas, tirando vantagem dos momentos de caos. Claro que uma das primeiras reações, será ir atrás das lanternas, na cozinha. Coloquei somente baterias sem carga. Isso quer dizer que terão que ir ao porão, para checar a caixa de fusíveis. Lembrem-se, ninguém saberá dos corpos lá em cima, então, não haverá pânico.

E o que vem em seguida?
LV –
Todos estarão festejando, com sorte Kelly não estará se divertindo nem um pouco. Seu namorado bêbado ficará frustrado e descontará nas drogas. As drogas serão de verdade. E aí as luzes vão se apagar. Um dos rapazes se oferecerá para ir até o porão e, sendo ele um grande saco de hormônios, ele levará sua garota para tentar se dar bem.

Não acha que é um pouco demais?
LV –
Não, Taylor, estou apenas contando a história. Essa é a minha parte preferida: todas as luzes irão se apagar e ele dirá para ela continuar, dizendo que tudo está bem. Então eu o mato.

E ela? Você deixa ela ir?
LV –
Ela é o estopim. Correrá de volta pra casa e começará o pânico. Isso me dará tempo para meu próximo passo. Não há fechadura no galpão de ferramentas, então usarei um corpo para assustar os garotos que forem lá em seguida. O galpão é o lugar seguro, não posso deixar ninguém entrar.

O armário. O útero.
LV –
Certo. Apenas Kelly é permitida. Se mais alguém tentar entrar sairá com uma fratura craniana.

Tão sádico e, mesmo assim, genial.
LV –
Obrigado.

Leslie, percebi que você quer que Kelly entre no galpão de ferramentas. Quer mesmo que a Kelly entre lá?
LV
– Exatamente, Taylor. É o primeiro sinal de poder que estou procurando nela. É um momento crucial quando ela se transforma em heroína. Quando faz a transição de vítima para heroína. Isso se manifesta quando ela procura por uma arma muito grande e pesada. Sabe do que estou falando? É profundamente simbólico. Ela está se fortalecendo com um pênis.

Um pênis?
LV –
Pode voltar ao passado e buscar todas aquelas mulheres que sobreviveram. E garanto a você, nenhuma delas conseguiu sem uma pequena arma.

Então está dizendo que ela irá buscar uma arma fálica de propósito.
LV –
Ela buscará minha arma. Esse é o primordial, porque ela estará pegando minha masculinidade. E o poder que vem com ela.

Então você é contra abortos e ainda é chauvinista.
LV –
São as convenções, Tay, temos que respeitá-las.

Vamos ver se entendi. Quer que ela se arme com uma arma fálica, tipo um machado?
LV –
Mais ou menos. Machado, marreta, martelo de construção, bastões de pinos, etc. As armas óbvias estão sabotadas. Espero que ela não tenha sorte no primeiro golpe.

Quantas saídas existem na casa?
LV –
Existem 11 saídas do primeiro andar. E umas oito ou nove que podem ser usadas no segundo andar.

Vai querer eliminar quantas forem possíveis.
LV –
Exato. Eu discretamente fechei as janelas com pregos.

Elas não podem ser simplesmente quebradas?
LV –
Acha isso? Ficaria surpresa, pois eles nunca pensam nisso. E quando eles as quebram é sempre no segundo andar ou mais alto. Aí, eles saem para o telhado e estão ferrados. Cortei os galhos maiores das árvores, para impedir que alguém desça. E os menores, deixei pré-cortados, igual ao celeiro. De qualquer forma, tudo vai se quebrar.

Isso parece trapaça.
LV –
É preparação. Falando sério, estou em desvantagem aqui.

E o que vem em seguida?
LV –
Eles se reagrupam e tenho um pequeno intervalo para evitar que saiam. Então volto para a frente da casa. E é aqui que o tempo se torna crítico. Eles querem acordar os dois garotos no andar de cima. E eles os encontram mortos e entram em pânico.

Muito bom.
LV –
Estamos chegando ao final agora. Sabe o que vem em seguida?

Acho que sim.
LV –
Por que não tenta a sorte?

Bem. Presumindo que eles vão correr…
LV –
Não presuma, eles vão correr.

Vão tentar se esconder e verão mais corpos.
LV –
Muito bom. E depois?

Eles irão para o único lugar que restou.
LV –
Sim. Não. Pare. Não está esquecendo de nada?

O abnegado!
LV –
Exatamente. Estarei esperando que ele chegue a qualquer momento. Tudo que tenho que fazer é mantê-lo ocupado, espalhando uns corpos pelo caminho. E então poderemos ter nosso momento do bem contra o mal.

Certo, mas Kelly está a solta. E agora?
LV –
“Pièce de résistance”.

Se o armário representa o útero, o que é isso? O canal de nascimento?
LV –
Muito bem, Taylor. Simbolos “Yonicos” são extremamente importantes no nosso trabalho.

“Yonic”?
LV –
“Yonic”. O oposto de fálico. A genitália feminina

Então ela precisa passar um trauma psicológico além do físico?
LV –
Se funcionar e ela for a escolhida, irá emergir. Sua inocência perdida volta a nascer pronta para vingança. Se ela fizer isso serei o homem mais feliz do mundo.

Antes de irmos, que tal alguns conselhos dos especialistas? Como alguém sobrevive a um encontro com Leslie ou com você, Eugene?
E –
Eu digo. Nunca saia com uma virgem (risos). Se tem uma virgem na sua equipe, ou alguém transa com ela, ou se afaste dela. Além disso, a resposta mais simples é a seguinte: corra como um doido e não pare até que o sol nasça. Parece redundante, mas é isso. Não tente se esconder. Vamos encontrá-lo. Não tente ser um herói e nos enfrentar. Você irá perder. Escolha uma trilha aberta e corra em linha reta o mais distante que puder. E nunca, jamais, olhe pra trás. Porque não vai gostar do que vai ver. Garanto isso.

E quanto a ficar juntos?
E –
Claro. Pode fazer isso. Tenha certeza de ter um desgraçado mais lento que você, quando for hora de correr (risos).

Está preocupado com o abnegado, Leslie?
LV –
Não. Preciso manter minha concentração.

Na Kelly?
LV –
Minha fé, minha longevidade, depende do que ela faz.

Mesmo assim, está tentando matá-la.
LV –
Esse é o paradoxo do que faço.

Você a ama, não é?
LV –
Amo a idéia sobre ela. O que espero que ela encontre dentro dela mesma.

O que não mata você o torna mais forte?
LV –
Sim. Isso é como meu Natal. Se não parar e apreciar, passa tão rápido. Estou tão feliz.

Behind the Mask: The Rise of Leslie Vernon (2006)

•2007, agosto 7 • Deixe um comentário

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Behind the Mask: the rise of Leslie Vernon é uma das gratas surpresas de 2006 e merece reverência pelo simples fato de conseguir revitalizar o combalido gênero slasher, num filme capaz de agradar tanto a fãs quanto a detratores do gênero.

Eu digo: 8/10

Que tem de bom?
– O mockmentary é um presente para todo fã de horror.
– Interpretações descontraídas e convicentes.
– Plot twist que funciona muito bem.
– O melhor slasher dos últimos tempos.

Que tem de ruim?
– O personagem de Robert Englund parece fora de propósito.
– Apesar da idéia original e de ser um divertido slasher, raramente ele deixa de ser MAIS UM slasher.

Dirigido pelo estreante Scott Glosserman – que produziu um curta alegremente entitulado No Escape: Prison Rape – e estrelado por um grupo de célebres desconhecidos misturados a figurinhinhas carimbadas dos fãs de horror, Behind the Mask… eleva a nerdice ao cubo ao imaginar como seria um filme concebido, estrelado e realizado por Randy Meeks, se este infeliz não tivesse morrido lá pela metade de Pânico.

Exato: Randy é o Nerd que possui conhecimento de todo o aparato de clichês dos filmes de terror e, assim, é capaz de entender e analisar o que o assassino de Pânico está fazendo – o que não o impede de acabar morto, he, he, he. No filme de Glosserman, quem dá as dicas é o próprio assassino, Leslie Vernon (Nathan Baesel em seu primeiro papel digno de nota), que na infância foi linchado pela população local após ter matado seus pais. Trinta anos depois, Vernon, que andou treinando duro, muito duro, volta para se vingar contra a população local, escolhendo os jovens como suas vítimas em potencial.

Durante a primeira hora de filme, Leslie cuidadosamente disseca cada um dos clichês do gênero, preparando o campo para a carnificina que vem em seguida. Somos apresentados, em primeira-mão, a todos os processos necessários para se estripar, torturar, e detonar um bando incompetente e bastante burro de adolescentes. Leslie concentra-se, também, em criar uma conexão com sua garota Sobrevivente: a virginal que, no fim da carnificina, enfrentará-lo de igual para igual. Se não existir esta conexão, os assassinatos não terão cumprido o seu objetivo. No caso de Vernon, esta jovem é garçonete loira Kelly.

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A virginal Kelly usa de uma arma fálica para detonar seu algoz

Conduzindo o documentário está a jornalista Taylor Gentry (Angela Goethals fazendo a transição de estrela infantil para a maioridade) e os cinegrafistas Doug e Todd. A personagem de Taylor é, desde o início, inocentemente manipulada por Leslie, que mostra-se amigável e despreocupado. A interpretação de Nathan para Leslie lembra muito – física e psicologicamente – a Jim Carrey e, claro, não poderíamos simpatizar mais com ele do que de outra maneira.

À medida que o filme vai evoluindo, vamos reparando mais nos trejeitos de Taylor: sua constante curiosidade, seu faro investigativo (é uma jornalista, afinal), sua ingenuidade, seu sorriso cativante… Quando a barra começa a pesar, Taylor entra num dilema profissional: deve ela tentar impedir toda aquela carnifica ou apenas continuar filmando?

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Eugen (Scott Wilson) já foi o melhor no seu campo

Enquanto desenvolve seu plano, Leslie leva Taylor à companhia de seus melhores amigos: o psicopata aposentado Eugene (Scott Wilson, fenomenal) e sua bela esposa Jamie (Bridgett Newton, ilustre desconhecida). Jamie é a garota Sobrevivente de uma das noites de assassínio de Eugene – e a provável razão de sua aposentadoria – que apaixonou-se por seu algoz. Eugene figura entre um dos melhores do seu tempo (os anos 1960 e 1970) e o mentor entusiasmado de Leslie Vernon.Note a data de atuação de Eugene: antes dos “garotos” Jason Voorhes, Freddy Krueger e Mike Myers revolucionarem o gênero. Os três são citados como grandes exemplos a serem seguidos pois, como comenta Eugene, transformaram-se em verdadeiras maldições, abrindo mão de suas mortalidades para adentrarem um mundo completamente novo e muito mais nocivo: o das idéias.

A razão de existir um psicopata slasher a solta numa cidadezinha norte-americana é simples, segundo Eugene: para que exista o Bem, deve haver o Mal. E, de certa forma, a personificação do Mal puro é o que a maioria destes personagens são nos roteiros mais baratos. Não obstante, ficamos chocados com a idéia de que um sujeito tão agradável e boa pinta como Leslie Vernon seja capaz de fazer mal a uma mosca. Que dirá a um bando de jovens.

Mas é aí que se encontra a perfídia e a genialidade de Vernon. E, neste detalhe que é bom demais para ser contado sem estragar o plot twist do filme, é que se encontra a motivação de um assassino em declarar seus próximos assassinatos.

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Ele pode não ter um grande personagem, mas ainda sabe o que faz

Como carta fora do baralho existe o personagem do célebre Robert Englund (o Freddy em pessoa). Ele faz o papel do Dr. Halloran, o Abnegado, aquele sujeito que sintetiza em si todas as qualidades do Bem e do que é Justo, em oposição ao Mal. Porém, sua primeira aparição deixa uma dúvida quanto a um (im)provável furo de roteiro. Ele surge numa biblioteca, bem no momento em que a bibliotecária (Zelda Rubinstein, a médium Tangina de Poltergeist) revela à jovem Kelly o mito de Vernon. Vernon mata a bibliotecária e é atingido no ombro pelo abnegado Dr. Halloran, que toma Kelly em seus braços e – aparentemente – começa a protegê-la.Na cena seguinte, Taylor e Todd entram na lancheria onde Kelly trabalha como garçonete e são surpreendidos pelo mesmo doutor, que lhes adverte sobre Leslie Vernon e sua verdadeira identidade. O doutor parece possuir poder suficiente para evitar o prosseguimento do plano de Vernon, apenas comunicando a Kelly o que se passa. Mas não o faz, o que leva a crer que ele saiba do plano verdadeiro de Vernon – e alertar Kelly e/ou Taylor faria com que Vernon escapasse para outra cidadezinha. Assim, parece que o heróico Dr. Halloran deixa as coisas seguirem até que tenha o seu showdown com Vernon. Afinal, que são três ou quarto mortes inocentes no duelo entre o Bem e o Mal, mesmo?

Black Mask: the Rise of Leslie Vernon é um ótimo presente para todos os fãs de terror, principalmente aqueles que – como eu – tiveram seu primeiro contato com o gênero nas sessões da tarde do final da década de 1980, quando pérolas como Sexta-Feira 13, A Hora do Pesadelo, Primeiro de Abril dos Mortos e outros faziam a nossa alegria. É um filme de fã para fã, que boicota o potencial que possui para ficar preso aos clichês e – mais do que assustar – fazer rir e reconhecer. Ainda, mais do que um filme para fã, é um filme para aqueles que odeiam os slashers, por todas as críticas indubitáveis deles, como falta de profundidade dos personagens, clichês, alegorias do Bem e do Mal, etc. E Behind the Mask… se torna uma raridade por isso: é muito difícil encontrar um filme que agrade tanto aos fãs quanto aos detratores de um gênero. E Scott Glosserman conseguiu esta façanha. Recomendadíssimo.

BEHIND THE MASK: THE RISE OF LESLIE VERNON. EUA, 2006. 92min. Glen Echo Entertainment. De: Scott Glosserman. Com: Angela Goethals (Taylor Gentry), Nathan Baesel (Leslie Vernon), Robert Englund (Doc Halloran), Scott Wilson (Eugene), Bridgett Nelson (Jamie), Zelda Rubinstein (Mrs. Collinwood), Kate Lang Johnson (Kelly Curtis), Britain Spellings (Todd), Krissy Carlson (Lauren). Roteiro: Scott Glosserman e David Stieve. Produzido por: Scott Glosserman e Al Corley. Música de: Gordy Haab. Direçao de Fotografia: Jaron Presant. Desenho de Produção: Travis Zariwny. Editado por: Sean Presant. Direção de Arte: Zack Smith. Efeitos Especiais: William Boggs, Carly Sertic e Kai Shelton. Distribuído por: Anchor Bay Entertainment (EUA), Starz Entertainment (Austrália), Sunfilm Entertainment (Alemanha).

Pulse (2006)

•2007, agosto 1 • 3 Comentários

 

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Em Pulse, temos o upgrade da metáfora do zumbi: há o vírus (agora de computador), há a doença (que transforma as pessoas em almas penadas), há o contágio extremamente rápido, o caos e as zonas de resistência criadas pelo Exército. Mas também há uma metáfora bastante atual: a solidão propiciada pela nossa “era da informação”.

EU DIGO: 6/10

Que tem de bom?
– Visual bacana, com fotografia sombria
– Monstros pra lá de interessantes e alguns bons sustos
– Premissa ótima: atualização do mito do Zumbi

 

Que tem de ruim?
– História poderia ser mais bem explorada
– Personagens muito superficiais
– Direção principiante que corta o clímax de várias cenas
– Mais um remake de horror oriental

Desde que George A. Romero adaptou o livro de John A. Russo no clássico de 1968 Night of Living Dead, os zumbis têm sido a metáfora para o desenvolvimento tecnológico da humanidade e os (des)avanços proporcionados pelo mesmo, principalmente a homogeinização da sociedade. Quando o público perdeu sua inocência e o seu medo de monstros, passou a olhar para dentro de si, e ver no homem o lobo do homem. O mito em torno do zumbi passa do pressuposto de que, se a morte é inevitável, o que vem depois é melhor ou pior do que a vida na Terra? “Quando não há mais espaço no Inferno, os mortos caminharão sobre a Terra”, é a clássica tagline de Dawn of the Living Dead (Romero, 1978). Também compõe o mito do zumbi a ciência escrita em linhas tortas que, inevitavelmente, libera um “vírus” mais mortal do que imaginava. Daí em diante, o vírus espalha-se ligeiramente, levando ao caos completo a civilização em poucos dias. Os humanos que não foram vertidos em zumbis encontram-se no degrau mais baixo da ciclo predatório – de predadores tornaram-se presas. A metáfora é maravilhosa.

Em Pulse, de Jim Sonzero, a metáfora do zumbi está toda lá. Há o vírus (vertido para o vírus de computador), há a doença (que transforma as pessoas em fantasmas, não zumbis), há o contágio extremamente rápido, o caos, e as zonas de resistência criadas pelo Exército. Mas também há – além de todos estes elementos que já por si renderiam um belo filme (de zumbis) – uma metáfora própria: a solidão proporcionada pela nossa “era da informação”.

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Pulse é a refilmagem de Kairo (2001), que confesso não ter assistido, mas os comentários é de que se trata de um filme realmente assustador – mais assustador que o Ringu original. Aliás, a fotografia sombria, com uma predominância de tons de cinza, a pouca iluminação e o ambiente opressivo de Pulse é bem ao clima destas produções japas.

Pulse é dirigido por Jim Sonzero em sua primeira superprodução. Apesar de algumas derrapadas com cenas desnecessárias para a história, Sonzero faz uma direção sóbria: garante bons ângulos e boas seqüências, como a do acidente de carro de Mattie e Dexter. Porém, sua pressa em mostrar os monstros acaba por “afundar” várias cenas de tensão. Parece que Sonzero é impaciente em aumentar o clima de expectativa (e o medo) do público, e prefere os gritos assustados das mocinhas indefesas e a catarse da exposição aos calafrios da sugestão. É o caso particular da cena de Christina Milian na lavanderia… Sonzero não deixa de acertar a mão no clima opressivo com que se encontram os personagens principalmente no final do filme, cercados pelos fantasmas – que fazem aparições constantemente em outras cenas, sempre ao fundo.

O filme inicia com Josh (Jonathan Tucker, do remake de Texas Chainsaw Massacre), um rapaz assombrado pelas aparições que mais tarde conduzirão o filme. Atrás de um sujeito chamado Ziegler, Josh acaba “sugado” por uma destas aparições. Josh perde a sua vontade de viver, até que comete suicídio. Somos apresentados então à namorada do suicida, Mattie (Kristen Bell, a Verônica Mars), uma estudante de psicologia que, se sentido culpada pelo que ocorreu com seu namorado, decide investigar as causas que o levaram a tal medida extrema.

<SPOILERS>
Daí em diante as coisas complicam. Aparentemente, Josh era um hacker amador que entrou no sistema de um tal de Ziegler e roubou-lhe um vírus de computador que, na verdade, nada mais é senão a porta para uma outra dimensão povoada por fantasmas. O vírus espalha-se rapidamente por todos os sistemas de computação, tais como satélites, celulares, iPods, Internet, etc. Através de tecnologia wireless, todo o mundo é infectado.

A infecção se dá principalmente através da Internet. Aparece uma mensagem na tela do usuário com a seguinte inscrição: “Do you want to meet a ghost?” (“Você quer conhecer um fantasma?”). Óbvio que, já que este é um filme de terror, todos os indivíduos são idiotas o suficiente para responder “sim” – por mais geeks que sejam, veja bem, porque todos os personagens no filme são geeks de computador. Eis que, então, o sujeito é apresentado a vários vídeos de suicidas gravados em suas webcams bem no momento em que perdem suas vidas. Todos eles infectados pelo vírus, claro.
</SPOILERS>

A metáfora em relação à Internet aqui é boa: geeks conectados são infestados por um vírus que lhes tira a vontade de viver, transformando-os em suicidas que não tem mais nem vontade de levantar-se. Suicídios coletivos através da Internet são fichinha no Japão e motivo de preocupação para as autoridades daquele país. Ano passado, um jovem portoalegrense suicidou-se e avisou suas pretensões em um fórum da rede – inclusive foi apoiado por integrantes dessa message board. Nem só do suicídio é feita a metáfora de Pulse: desde o principio do filme, todos em torno dos personagens fazem uso de celulares, notebooks, iPods, computadores, etc. É o homem protegendo-se dentro de casa dos… outros homens. Mas como proteger-se-á de si mesmo?

Falei que todos os personagens eram geeks? Pois é verdade. Além de Josh (hacker), ainda temos sua namorada Mattie (uma destas garotas que não largam seu celular-último-tipo nem para ir ao banheiro), Stone (um perv virtual), Tim (um gordinho loser) e Dexter (Ian Somerhalder, o Boone de “Lost”, um cara aparentemente viciado em gadgets). A única que escapa um pouco deste “mundinho” é Isabell Fuentes (interpretada por Christina Milian), a melhor amiga e colega de quarto de Mattie.

Que querem os fantasmas? Querem a única coisa que não podem ter: “Vida”, como nos explica o tal Ziegler no fim do filme. Para tanto, alimentam-se da força vital das pessoas, transformando-as em cascas ocas sem vontade de viver. Ok, o suicídio em si não é novidade no reino dos filmes de terror, ainda mais oriental (lembro-me do japa Suicide Club que, pelo menos até o momento, não tem remake anunciado), porém, em Pulse, há um motivo para realmente crer na onda de suicídios. Em Suicide Club (Sono, 2002), o motivo é babaca; em Pulse, a explicação, mesmo que sobrenatural, é mais plausível. Infelizmente, por ser um filme voltado ao público “teen” norte-americano, não tem o choque dos suicídios de Suicide Club. Talvez o original tenha…

Os fantasmas de Pulse lembram muito os mesmos seres descarnados de White Noise (Sax, 2005 – aqui se chama como? Ecos do Além, Gritos do Além ou Vozes do Além?), protagonizado por Michael Keaton. Aliás, pelo menos no Brasil White Noise foi vendido como um filme de horror – o que não é, mas sim um filme que utiliza do fértil terreno do espiritismo para balizar uma história de drama/romance/suspense com algo de sobrenatural. White Noise é um filme razoável, mas todos os sustos que fantasmas malvados que saltam de tevês e computadores poderiam causar estão em Pulse.

Assim como Romero deu vida aos seus mortos-vivos em 1968 como escape para a sociedade da época, Pulse e o seu original fazem o mesmo com a nossa sociedade conectada do século 21. Pretensão comparar Pulse com o clássico de Romero? Talvez. Mas a verdade é que Pulse e o seu original Kairo dão um upgrade no mito de zumbi criado pelo cultuado diretor nova-iorquino. Quem sabe não tenhamos mais filmes de monstros que utilizam a Internet ou as redes de telefonia para propagarem-se?*

PULSE. EUA, 2006. 90min. The Weinstein Company/ Distant Horizons / Neo Art & Logic. De: Jim Sonzero. Com: Kristen Bell (Mattie Webber), Ian Somerhalder (Dexter McCarthy), Christina Milian (Isabell Fuentes). Roteiro: Wes Craven e Ray Wright; Kiyoshi Kurosawa (roteiro original). Produzido por: Michael Leahy e Joel Soisson. Música de: Elia Cmiral. Direção de Fotografia: Mark Plummer. Desenho de produção: Ermanno Di Febo-Orsini e Gary B. Matteson. Direção de arte: Sorin Popescu. Edição: Robert K. Lambert, Bob Mori e Kirk M. Morri. Efeitos Especiais: The Orphanage.

* Quando escrevi este review para Pulse, em novembro de 2006, não tinha idéia do novo livro de King, lançado este mês no Brasil: Celular. Nele, um vírus que torna as pessoas em zumbis é difundido através da rede de telefonia móvel. O fato é chamado – propositalmente? – de “O Pulso”.

Bonecos: Clash of the Titans

•2007, julho 31 • Deixe um comentário

A Gentle Giant Ltd. é uma empresa norte-americana que faz estátuas de filmes, a maioria de ficção científica, como Star Wars e Matrix. Mas, entre um ou outro boneco, é possível encontrar coisas bacanas como bonecos do Hellboy, Texas Chainsaw Massacre 2 e uma estatuazinha do The Grudge.

Porém, o que chama atenção mesmo são as estátuas do clássico Clash of the Titans, um dos meus favoritaços da infância.

Clash of the Titans é a história de Perseu, filho de Zeus. Após pedir a mão da Princesa Andrômeda em casamento, Perseu é desafiado pelo ex-amante da princesa, Calibos, e sua mãe, Thetis: para que o maligno Kraken não seja solto de sua prisão, levando destruição à antiga Grécia, Andrômeda deve ser sacrificada. A única maneira de parar Kraken é com a cabeça da Medusa, cujo poder pode transformar qualquer ser vivo em estátuas. Com a ajuda do cavalo Pégaso e da coruja Bubo, Perseu enfrente diversos desafios.

O filme de 1981 é um dos últimos a utilizar efeitos especiais em stopmotion, assinados pelo mestre Ray Harryhausen. Harryhausen também produziu os efeitos de Jasão e os Argonautas, Sinbad no fim do mundo e O Primeiro Homem na Lua – todos clássicos das minhas tardes na frente da televisão. Após Clash of the Titans, ele se aposentou: produziu apenas um outro filme, The Tortoise & the Hare, e documentários sobre sua carreira.

Confira os bonecos da GentleGiant, escaneados diretamente das maquetes de Harryhausen:

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Calibos

 

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Medusa

Captivity (2007)

•2007, julho 30 • 1 Comentário

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Certo dia, um executivo da Indústria chegou com a genial idéia: “Vamos pegar uma bela atriz, fazer de conta que ela é Paris Hilton e que foi seqüestrada por um maníaco. Ela fará coisas que só Paris Hilton faria nesta situação – ex: ter relações sexuais – e, assim, teremos uma ótima crítica social, além de um belo filme de terror para emos!”.

EU DIGO: 3/10

Que tem de bom?
– Elisha Cuthbert.

Que tem de ruim?
– Todo o resto!

O sub-gênero de terror “pornô-tortura” conquistou Hollywood com a dupla Saw (Jogos Mortais) e Hostel (O Albergue), há alguns anos atrás. Feito sob encomenda para um grupo de fedelhos com camisetas do Slipknot satisfazerem seus desejos mais sórdidos e sanguinários, o que conta aqui é o visual bem trabalhado e a engenhosidade das torturas, mais do que da trama. O resultado são cenas magníficas de horror asqueroso, com quase ou nenhum susto, tampouco construção de suspense.

Enquanto eu acho Saw um lixo (ainda não vi suas continuações) e Hostel um pouquinho bom (mas só um pouquinho…), acho a premissa da “porno-tortura” uma boa sacada. Mas ainda não vi um filme bem executado deste tipo – e, tenho certeza absurdamente absoluta, que não vai ser em Hollywood que eu vou ver um assim (espero que Bruno Mattei ou Lamberto Bava ou algum diretor alemão me dêem essa oportunidade).

Portanto, foi com uma curiosidade despretensiosa que fui conferir essa bomba ao cubo chamada Captivity. O filmeco é distribuído pela After Dark – que, honestamente, ainda não acertou uma mas tem potencial, estrelado por Elisha “Só-faço-asneira” Cuthbert e dirigido por um certo Roland Joffe – que parece ser conhecido, tem no currículo duas indicações de Oscar na década de 1980 de melhor diretor, mas após isso realizou verdadeiras pérolas como o filme dos irmãos Mario, Captivity e – heheheheh – Finding t.A.T.u. (pelo qual abrirei um parentêses para revelar o plot: “duas adolescentes, a americana Janie (Danielle “Quem?” Panabaker) e a russa Lana (Mischa “Ratinho” Barton), apoixanam-se durante um concerto da banda t.A.T.u. e são envolvidas num perigoso mundo de obsessão, abuso de drogas e assassinato). Pelo menos nesse filme tem lésbicas… hehe.

Bem, voltando a Captivity: o filme foi vendido como um “pornotortura” com a gosta da Elisha Cuthbert. Durante meses, fomos presentados com belos pôsteres de Elisha sofrendo o mais variado estilo de torturas. Parecia ter futuro, se desconsiderássemos o fato de Elisha ter estrelado um filme sobre uma atriz pornô em que não existe cena ALGUMA de sexo. Opa! Boa coisa não ia sair daí…

No filmeco, Elisha é Jennifer Tree, uma fútil celebridade que já fez bastante besteira na vida (quais foram elas, fiquei sem saber). A personagem foi inspirada, segundo Joffé, em Paris Hilton. O que me faz perguntar: diabos, se a personagem foi inspirada em Paris Hilton por que não convidar a própria para “estrelar” Captivity? Tenho certeza que teria mais pele aparecendo na tela se assim fosse…

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Elisha, a única coisa BOA do filme. Hehehe.

Um belo dia, após um evento de caridade, a personagem de Elisha é sequestrada, presa num quarto com suas coisas e torturada psicologicamente. Ela tem medo de escuro e de ficar sozinha, e o seu sequestrador sabe disse – através de entrevistas nas revistas (lembre-se: se um dia ficares famoso, não contes seus medos para os repórteres!). Enquanto seu mundo (pretensamente, vamos fazer de conta que o filme atinge seus objetivos) desmorona, Jennifer continua agarrada em seu ursinho de pelúcia, sendo passiva em sua vida e vivendo em sua bolha.

Então, ela encontra com Gary, que está preso no cubículo ao lado, também sequestrado – e, a não ser se você teve morte cerebral ou adiantou o filme para ver a Elisha Cuthbert pelada (e não encontrou hahaha!), você saca de cara quem ele é o que ele faz. Os dois envolvem-se, talvez devido ao isolamento e ao desespero (de novo, pretendendo que o filme tenha atingido seus objetivos) e… e… acabam TREPANDO! Como diria Dylan Dog, Judas Dançarino! Quem diabos tem relações sexuais numa situação dessas!?

Ah. Mas não fiquem excitados. Eles transam, mas você não vai ver mais do que as costas de Gary. É, exato, nem um peitinho de Elisha Cuthbert – e olha que ela troca de roupa no escuro, na frente de Gary. Judas Dançarino novamente! Quem faz uma coisa assim numa situação dessas? Paris Hilton? Pior que eu não duvido…

Enfim. Após isso tem várias reviravoltas na trama (pretensamente, de novo, fingindo que o filme tenha atingido seus objetivos), e a dupla de detetive mais imbecil do mundo consegue encontrar ao acaso a casa do assassino. Eles morrem e Jennifer Tree, até então indefesa, parece ter se livrado de seu medo do escuro e luta desesperadamente pela vida, INCLUSIVE assassinando à queima-roupa seu sequestrador.

Finalmente, pra não dizer que foi 1h34 perdida da minha vida, revelo vinte coisas que aprendi com Captivity:

1) Quando preparar quartos para as vítimas, sempre coloque um vidro entre elas, mas lembre-se de pintar AMBOS os lados.
2) O policial responsável pela investigação pode facilmente decidir que “nós não vamos pegá-lo”, assim selando o destindo da pobre vítima.
3) Você pode criar chuveiros de areia do nada e, quando o teto for aberto pelo salvador não haverá traço algum daonde vinha as toneladas e toneladas de areia.
4) Seu medo mortal do escuro ficará curado magicamente quando tentar escapar pelo sistema de ventilação.
5) É perfeitamente possível abduzir uma celebridade de um clube com 700 pessoas sem ninguém notar.
6) Algumas câmaras de segurança interna não exibem mais do que material CENSURADO durante ato sexual, então cheque antes de comprá-las.
7) Enquanto escapa de um assassino, você pode trancar a porta com uma cama e uma cadeira, ignorando o fato de que a porta abre do lado DE FORA.
8 ) Conte, é claro, que o assassino – e dono da casa – não se lembre disso e DESTRUA a porta para abrí-la.
9) Tudo bem colocar uma cena aleatória no começo do filme, quando ninguém, nem o diretor, tem IDÉIA do que esteja acontecendo.
10) Você pode disparar diversas vezes com uma .12 sem ninguém se aperceber disso.
11) Quando capturada por um maníaco que provavelmente a matará, você pode fazer sexo calmamente
12) Celebridades podem ser seduzidas por um Zé Mané qualquer que elas mal conhecem (tenho chances com a Scarlett 😀 hehe)
13) Celebridades trocam de roupa sem vergonha alguma na frente de um Zé Mané qualquer (preciso encontrar a Scarlett logo :P)
14) Mesmo presa num quarto escuro por dias, você não fica suja nem com o cabelo despenteado
15) Serial killers deixam albúns de fotos de suas vítimas na estante da sala
16) Serial killers têm um canal na sua TV à cabo que exibe câmeras de segurança de suas vítimas. Diga adeus ao canal auxiliar…
17) Policiais deixam de lado um suspeito para assistir a um jogo na TV
18) Alguém pode sobreviver após ser esfaqueado no peito, mas antes parecerá morto por um (bom) tempo
19) Elisha Cuthbert não fica nua nesse filme – quando “fica”, a câmera perde o foco.
20) Elisha Cuthbert nem ao menos veste uma camiseta molhada nesse filme.

Ou seja, Captivity sucks. Big time. :I


Trailer

CAPTIVITY. EUA, 2007. 94min. After Dark Filmes. De: Roland Joffe. Com: Elisha Cuthbert (Jennifer Tree), Daniel Gillies (Gary Dexter), Pruitt Taylor Vince (Ben Dexter), Michael Harney (Bettiger), Laz Alonso (Detective Di Santos). Roteiro: Larry Cohen e Joseph Tura. Produzido por: Mark Damon. Música de: Marco Beltrami. Direçao de Fotografia: Daniel Pearl. Desenho de Produção: Addis Gadzhiyev. Editado por: Richard Nord. Efeitos Especiais: Chris Bailey e Vladmir Leschinski.